Portugal é dos países onde os alunos mais dependem da família
Em Portugal não é tão comum como noutros países ter um trabalho pago em tempo de aulas: 22% dos alunos do ensino superior dizem trabalhar regularmente ao longo do ano lectivo. A estes somam-se os 8% que mencionam trabalhos ocasionais.
Portugal é dos países onde os alunos mais dependem da família
Em Portugal não é tão comum como noutros países ter um trabalho pago em tempo de aulas: 22% dos alunos do ensino superior dizem trabalhar regularmente ao longo do ano lectivo. A estes somam-se os 8% que mencionam trabalhos ocasionais.
Os jovens portugueses ficam até tarde em casa dos pais. Por isso, Portugal é um dos países da Europa em que os alunos mais dependem das famílias para tirar um curso superior. Os estudantes nacionais pagam apenas 44% dos custos que têm com a frequência das universidades e politécnicos. A habitação leva a maior fatia, sobretudo em Lisboa.
Estes dados foram publicados recentemente no estudo Eursostudent , que avalia as condições sócio-económicas da vida dos estudantes na Europa. De acordo com esse relatório, Portugal é o quarto país onde as famílias assumem uma maior fatia dos gastos com a frequência do ensino superior: são 56% de todos os custos.
Apenas a Geórgia, a Irlanda e a Sérvia – onde os pais dos alunos suportam 64% dos custos – têm uma percentagem mais elevada neste indicador. Em média, os estudantes pagam dois terços das suas despesas mensais do seu próprio bolso nos 28 países estudados.
O elevado contributo das famílias nacionais para os cursos superiores dos seus filhos está directamente relacionada com o facto de os estudantes portugueses estarem entre os que mais tarde saem de casa dos pais.
De acordo com o Eurostudent, 49% dos alunos do ensino superior portugueses vivem com os pais durante a sua licenciatura ou mestrado. Este número é bem superior à média internacional que é de 36%.
Os estudantes que vivem com a família são aqueles que têm uma menor contribuição para os custos com a educação: pagam 26% dos custos. Os estudantes que vivem sozinhos contribuem com 60% das despesas.
“Há uma questão cultural” que tem que ser levada em conta para entender estes dados, contextualiza Luísa Cerdeira, professora da Universidade de Lisboa: “As famílias da Europa do Sul têm uma noção de responsabilidade sobre os seus filhos que se prolonga até que terminem a formação e arranjem emprego. Nas famílias anglo-saxónicas esta termina quando atingem a maioridade”.
Esta realidade atinge não só o comportamento das famílias “como as próprias políticas públicas”, acrescenta. Nos países nórdicos (Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia) – onde há subsídios dos Estado à emancipação dos jovens –, bem como na Áustria, menos de 20% dos gastos de um curso superior são assumidos pelas famílias. São os países onde os estudantes mais contribuem para os seus próprios estudos, mostra este relatório.
A maior parte do dinheiro gasto pelos estudantes ou as famílias vai para os custos com habitação e alimentação. Apenas 13% da estrutura de custos diz respeito a custos directos com educação (propinas, livros, etc.).
Estes dados são coincidentes com os resultados de um estudo do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, coordenado por Luísa Cerdeira, publicado no ano passado que indicava que a residência é um dos gastos com maior influência nos custos da frequência do ensino superior . Os estudantes do ensino público que estão deslocados gastam, em média, mais 781 euros por ano que os seus colegas que continuam a viver junto do agregado familiar.
“Quem chega ao ensino superior continua a ser um privilegiado”, aponta o presidente da Federação Académica do Porto, João Pedro Videira, segundo o qual estes números colocam em evidência o facto de, nos casos em que as famílias não têm condições para assumir este esforço, os estudantes acabam por não ir estudar no ensino superior.
“Não basta ter boas notas para entrar no ensino superior”, acrescenta João Rodrigues, da Federação Académica de Lisboa (FAL). “Os alunos têm que ultrapassar uma série de outros obstáculos para conseguirem ter sucesso”.
Isto é particularmente evidente em Lisboa onde “cada vez mais, só é possível estudar num quadro de excepção”, aponta o mesmo dirigente. O Eurostudent confirma a análise do presidente da FAL: Portugal é dos países onde a diferença dos custos com habitação entre a capital e as cidades mais pequenas é mais pronunciada.
Os estudantes que não vivem com os pais em Lisboa têm despesas com alojamento 125 euros superiores aos seus colegas que vivem em cidades mais pequenas. Irlanda, França, Itália e Polónia estão na mesma situação.
O mesmo acontece com os gastos com alimentação. Os estudantes em Lisboa gastam no mínimo mais 52 euros por mês que os seus colegas nas cidades de menor dimensão.
Cidades universitárias como o Porto, Coimbra e Braga foram alvo deste estudo mas não foram consideradas para este índice por terem mais de 100 mil habitantes.
O elevado custo de vida de Lisboa faz também com que Portugal seja dos países avaliados neste relatório em que a percentagem de estudantes a viver com os pais é mais alta entre os estudantes da respectiva capital. São 55% dos alunos de Lisboa que vivem com a família durante o curso superior.
Apenas Croácia e Itália, onde 73% dos estudantes de Roma vivem com os pais, têm uma percentagem mais elevada neste indicador. Nas cidades com menos de 100 mil habitantes, apenas 4% dos portugueses vivem com os pais.
O Eurostudent é da autoria do Centro para a Investigação em Ensino Superior e de Estudos da Ciência da Alemanha, que liderou um consórcio com outros seis centros de investigação europeus para produzir este estudo. Foram envolvidos 28 países europeus, incluindo a Turquia, a Geórgia ou a Albânia, que não fazem parte da União Europeia.
O relatório mostra que além dos 49% de estudantes do superior que vivem em casa dos pais há ainda 24% que dividem casa com outras pessoas e 13% que vive com companheiro ou filhos (ver caixa) e 8% vivem sozinhos.
Outros 6% dos estudantes nacionais vivem em residências universitárias, um valor muito inferior à média internacional, que é de 18%. Há dois meses, um diagnóstico feito pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior mostrou que as 13.971 camas disponíveis nas residências para estudantes do ensino superior só garantem alojamento para 12% dos que se encontram a estudar fora das suas áreas de residência.